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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fogo posto


Boa noite velha amiga! Sabes, se fosse agora, talvez não o fizesse. Não sei, talvez me retraísse, ou mesmo abdicasse de tudo.
Sabes que esta noite não parece tão acolhedora, este frio não é tão propício e, pior que tudo, não estou a ter o prazer que esperava. Por isso, se fosse agora, provavelmente não o faria.
Mas é tarde demais.
Está feito. Posso arrepender-me, e arrependo-me, mas não há mais nada a fazer.
É por essa razão que te escrevo. Para que um dia, quem sabe daqui a muitos, muitos anos, sejas capaz de me perdoar.
Perdoar não digo, entender também não. Já me basta a cólera que vais sentir quando vires o que eu fiz. Ou quem sabe, te acalme.
A minha ira não acalmou, por isso é que escrevo o que escrevo e fiz o que fiz.
Sim, sei que não é desculpa, de facto não é, mas não me consegui ver livre da raiva e ela tomou conta de mim. Guiou-me o corpo e essencialmente as mãos.
Levou-me até esta casa onde fomos, em tempos idos, felizes nas noites de luar brilhante, quando fazíamos amor no chão de pedra, isolados do mundo e da civilização por um pinhal maior que o pinhal de D. Diniz, quando, abraçados, jurávamos amor e paixão eterna e a chama ténue nos consumia pela noite dentro.
Agora o fogo consome a casa, daqui a pouco o pinhal, talvez seja capaz de me cercar sem eu conseguir fugir e me permita a honra de ser imolado por ele.
Quem sabe carbonize o meu corpo e esta carta e tu não chegues a lê-la nem a perceber porque o fiz.
Queria chorar agora mas não consigo desviar os olhos do fogo.
Dança à minha frente, chama-me, goza comigo, excita-me, enerva-me e intriga-me.
A paixão do vermelho e laranja, o som da madeira a crepitar, as faúlhas que se soltam no ar numa alforria eterna.
Olha velha amiga vou só ali acender mais um cigarro no fogo, para o apreciar melhor, para ser como ele.
Desculpa-me o que fiz. Mas não esqueças quem eu fui.

3 comentários:

Milhita disse...

Cada momento vivido, sem pesar a razão, é esboço de sentidos, de passos que, envoltos em culpa, são esboços de caminhadas, noutros sentidos.
Em mim, são bem vindos os errantes, lucidos.
Um abraço amigo

Unknown disse...

Nem sempre a saudade se remete a algo perdido, as vezes e algo que nao perdemos, mas que apenas nao esta presente num determinado tempo.
Dificil tambem é, as vezes, entrarmos no coraçao daqueles que gostamos, da mesma forma que eles entraram no nosso.

Quanto ao "Fogo Posto"..
lhe transcrevo versos de um poema meu, ao qual lhe chamo: "Herrar é Umano!"

.."A imperfeição já não mais me assusta,
Pois ela nos leva a distinguir a verdade de nós próprios.

.."A Humanidade é o traçado entre a partilha de alegria e dor,
E assim o erro nos culpará por uma vida até á ultima escada,
Como que se nos perseguisse num olhar envolto,
Um olhar envolto do mesmo erro que nos tornou em pecador."
felicidades e uma boa continuaçao:)

continuando assim... disse...

não te esqueças quem eu fui....

arrepiei-me um bocadito ..:)