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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ontem, hoje e amanhã




Existem momentos em que me sinto mais velho que o tempo, noutros, manifesta-se em mim um aroma a talco como o de um recém-nascido.
Ontem fui actor de uma película muda, a preto e branco, hoje sou espectador de mim mesmo. Sinto e vivo mais.
Nos bailes da vida onde ontem dançava leve e solto de movimentos, mas acanhado de sentimentos, hoje espectador, danço com todas as mulheres do mundo, todos os ritmos, rio todos os risos e troteio todas as músicas como as soubesse de cor e salteado. Cada estrofe, um momento de vida. Cada refrão, um momento de amor.
Ontem montei cenários de sensações, iluminados por lâmpadas de néon. Hoje, os cenários são albergues de desvalidas recordações, visionados apenas pelo luar, na paisagem lunar dos meus sonhos feitos de odores vividos, de mulheres que amei.
Como diz uma amiga… “Estou onde não estou, sinto sem expressão o que ficou por não estar.” Como te entendo. Eu completo-te verbalizando, que eu só estou bem onde não estou, só quero ir onde não vou, amar quem não devo e fugir onde só me perco.
Em tantos mares naufraguei sem nau que me abrigasse, tantas bibliotecas visitei que me perdi nas páginas de copiosos livros.
Em tanta cama repousei abandonando-me à sorte de frívolos amores, que em mim amadureceram. Alguns, convidando-me a desvirginar-lhe a alma. Também os houve, que me resgataram deste claustro de fobias e eu, sequioso mostrei-lhes os meus olhos despidos das mazelas do mundo olhar puro, virgem de vida e morte, inocente como um mito.
Ontem nada me doía, hoje dói-me o peito, a luz baralha-se-me a mente, relampeja-me em trovões, e estes zumbem-me nos ouvidos.
Ontem lia livros incendiados de paixão e sonhava com o amor sentido e genuíno.
Hoje, como um doido no escuro a vociferar impropérios, o meu punho inflamado e empolado de tanto rodar, os dedos tortos, os óculos baços, as canetas roídas, gastas e amontoadas, o quarto sem luz e no entanto escrevo e escrevo segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia.
Na ausência de papel escrevo no corpo. Braços, pernas, tronco, cabeça, o meu corpo polissilábico, pleno de azul e eu sabendo, nos momentos em que começo a fraquejar, que a luta apenas está a principiar, segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia.
Hoje, as portadas da janela permanecem abertas, não me dei ao trabalho de as fechar, e também não me apetece mexer mais que a minha mão e o antebraço e mover os olhos sobre este caderno que tenho diante de mim, tão cheio de palavras, frases, expressões, poemas e textos.
Será que depois de ler o que escrevi hoje, de uma forma leve e espontânea acreditam que um amor e uma cabana tenham algum significado na minha forma de estar ou de escrever?
Será que sou mesmo romântico?
Será que penso demais?
Será que sonho com o impossível?
São muitos os que me perguntam quem me fez mal, quem me tornou tão triste, por aquilo que escrevo. São muitos os que deduzem que devo ser uma pessoa de bem com a vida. São muitos os que me acham diferente, são muitos os que me fazem perguntas às quais não sei responder, nem à maioria delas um dia saberei responder (tenho consciência das minhas limitações), porém… hoje chegou ao fim as continuas questões sem resposta. Existirá alguém por detrás de todas as minhas palavras?
Haverá?
Quanto a mim, guardo o meu segredo onde sempre o guardei, dentro de uma caixinha, e de onde sai de quando em vez, uma verdade, uma mentira, um sorriso, uma lágrima.
Sou um contador de histórias e sentimentos.
E agora vou levantar-me, erguer-me de novo, se cair, levanto-me.
Pode custar, pode até doer, mas a força de vontade tem que ser maior que a dor do embate no chão, e ainda que fiquem marcas, tenho que aprender a viver com elas.
Fazem parte de mim, e de um processo, que se chama Vida. As coisas simples, que por vezes, teimamos em complicar.
No entanto, ainda é cedo. Digo para mim, ainda que morra amanhã. Ainda é cedo, o amor ainda vai alto, claro que sim, um dia chegarei lá, e sem me dar conta, hei-de vê-lo desabrochar. Direi com ênfase, encosta os teus gélidos lábios à minha boca de pedra.
O dia irá ser enfrentado de frente e um de cada vez.
Agora, deixem-me estar.

1 comentários:

Milhita disse...

"Existirá alguém por detrás de todas as minhas palavras?"
Pensamento que liberta um desententido olhar no reflexo do mostramos, somos, sendo tão mais por dentro...
Desenquadrado sentir que nos move em palavras deixadas ao sabor do pensamento.
Também eu penso tanto..
Sinto-me honrada por fazer parte de um texto sentido.
Um abraço, AMIGO