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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ter consciência dói



Hoje gostava de escrever um poema, mas a tristeza assola a minha mão amputada de palavras nobres, a alma estraçalhada de ideias e o coração em compasso acelerado, mas desajeitado de rimas.
Quero lá saber de rimas.
Também não existem duas árvores iguais.
Penso e escrevo como a variedade das flores que encontro no campo.
Olho e comovo-me quando aprecio a mistura de cores que delas brotam.
Olho e comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado.
Olho e comovo-me quando olho para o branco do papel tingido por rasgos negros feitos com a minha mão.
Quero escrever de forma natural como a brisa que me afaga o rosto.
Quero ser livre como a água que corre no chão oblíquo, quero ser livre de mostrar a cor da minha alma.
Quero ser livre como o lácteo da folha de papel.
Quero ser livre como a brisa que se levanta ao fim da tarde no estio.
Mas, sinto-me preso como um pássaro sem asas, preso ao chão com amarras.
Sinto-me preso por querer voar e não poder.
Quero correr, quero fugir daquela parede bege que me sufoca com a falta de ar que me faz pesar os alvéolos. Magoa quando respiro.
Hoje, vou saltar pela janela e correr para longe, sem olhar para trás.
Sei que a vida ainda me espera. Só que quanto mais vivo, menos me conheço!
O meu interior é compartilhado, talvez seja por muitos, ou por ninguém.
Mas certamente serei alguém que não é de ninguém.
Habito dias tranquilos, outros como o mar revolto.
Momentos em que me sinto forte, outros em que me sinto carente. Mas mesmo assim, sou gente.
Quero descobrir quem sou. Sei que é deveras complexo, porque quanto mais me procuro, menos me descubro. Muitas vezes apaixonado, outras vezes na solidão do só.
Eu que não sou um homem de fé perdi a fé nos homens, perdi a fé em mim.
Porque sou diferente da maioria? Chega! Vou fazer como toda a gente.
Não suporto mais. Não quero saber de mais, porque a vida não foi feita para se viver assim.
Não me interessa se um dia morro à fome. Não me importa saber do papelão e do cobertor que vi há pouco no chão à porta da pequena capela.
Já não me indigno por saber que vivemos num mundo injusto.
Desisti. Não quero saber. Não quero saber do espoliado, do sofredor. Quero ser igual aos outros. A partir de hoje encolho os ombros e não quero mais saber. Afinal quem por mim sofre?
Quem em mim pensa? Tu? Ou tu?
Ninguém me responde. As respostas seriam certamente as mesmas de sempre. Os pensamentos iguais e à tua semelhança.
Será sacrilégio perder a fé? Isso importa? Fará de mim um homem mais feliz?
Não sei, não quero saber e não quero acordar.
A realidade magoa. Não quero sofrer mais. Não quero ter consciência.


Porque ter consciência dói.

5 comentários:

Milhita disse...

Eu respondo. Distante de um gesto, abraço um amigo.
Vale a magnitude de um ser distinto e de palavras que não são muitos que se atrevem a expressar.
"quanto mais vivo, menos me conheço!
Tambem eu, meu amigo, tambem eu!!!
Bom fim de semana

continuando assim... disse...

ter consciência dói... despedaça o coração, entristésse.


beijo

bom fim de semana

continuando assim... disse...

pink floyd...claro!!

Secreta disse...

Concordo plenamente... ter consciencia doi mais do que tudo.

Unknown disse...

Há dias que realmente nos deixam uma revolta, por depararmos com realidades injustas, e por termos essa consciencia ficamos assim possuidos por essa dor.
Mas apesar de sermos mais conscientes e infelizes de certa forma, somos mais nobres e inteligentes de alma, o que nos torna talvez mais humanos dos outros.. e assim termos algumas mais capacidades..
e apesar de nos passar pela cabeça abandonarmos ou desistirmos... no momento a seguir isso acaba sempre por passar... é apenas o desabafo.
boa continuação
beijinhos