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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Porque me fizeste nascer?


Fui nascido na penumbra de uma curiosa.
E quão difícil é nascer. Se o soubesse teria recusado a tal, e permaneceria para todo o sempre no teu doce e aconchegado ventre de mulher, minha mãe. Aí senti-me sempre seguro e protegido. Era eu, o genuíno, o verdadeiro embrião que se recusava a germinar.
Que doloroso é nascer, minha mãe.
Devias ter-me sussurrado, qual mundo me aguardava. Sim! Eu sempre te ouvi.
E quando tu prenhe, eu te ouvia cantar a “Senhora do Almortão”, sentia-me calmo, embalado e adormecia ao som da tua voz terna e confiante.
Mas devias ter-me alertado, como é complicado vir ao mundo.
Sabes mãe, o tempo é como um predador que corre atrás da sua presa e quando dei por mim, a lei da vida fez-me ver que já não era mais aquele menino que acariciavas e protegias.
Tornei-me homem rápido, ou melhor, um menino mais crescido, porque sempre segui fielmente os teus mandamentos e a minha essência ainda sonha e acredita neles.
Mas, quando neste menino surgiram os primeiros cabelos brancos, olhei por cima do meu ombro, e a saudade alagou-me o coração.
Devias ter-me dito que é difícil nascer, complicado crescer e insuportável viver.
Ainda ontem lembrei com certa nostalgia, aquilo que me dizias “filho, nunca cobices o que é dos outros.” Mas uma coisa é certa minha mãe, apenas tu me o dizias e ainda hoje me o dizes de modo diferente, mas eu continuo a compreender-te.
Sabes mãe, não vejo ninguém fazer o que me ensinaste. Não! Verdade! Sabes, não é este mundo que esperavas, que desejavas e enfatizavas.
Neste, no real, o caminho é longo, a estrada parece não ter fim, a jornada cansa. É uma estrada muito longa que me esgota cada dia que a percorro.
Sou uma flor fora de estação, uma árvore com as raízes soltas da terra que a alimenta, um planeta sem órbita á deriva em busca de um lugar, uma estrela que ofertou o seu brilho, enfim um homem perdido neste tempo e neste espaço.
Se eu pudesse perguntar ao tempo se ainda tenho tempo de esperar, de sonhar e de amar sem o tempo me levar? Mas, o tempo não tem tempo de esperar, de sonhar, nem de amar só tem tempo de passar.
E com o seu passar, vestiu-me uma máscara de desilusão, que tornou os meus olhos tristes.
E tu sabes que depois de tristes surgem e escorrem lágrimas quando vejo crianças que sofrem sem culpa, que morrem sem compaixão, doentes sem perdão, pergunto-me...
Porque me fizeste nascer?


Texto: JC
Imagem: Google

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