Muitas vezes viro-me do avesso na tentativa desesperada de ser poeta, mas o talento foge-me e por essa razão escrever basta-me.
Nestes dias em que a minha mente vagueia pela nebulosidade, a beleza confunde-me e o encantamento fere-me ao ver as chagas das ruas.
Sempre que vejo uma criança sofrer antevejo menos um raio de sol que brilha.
Julgo que caí na terra por acidente. Enquanto anjo tropecei certamente numa nuvem e aqui tombei.
Por essa razão sou um sonhador… um homem pacífico, distante, onde os sonhos predominam.
Sou um ser que imagina que o mundo pode ser um pouco melhor. São assim os sonhadores.
Por vezes deixamos passar desapercebido coisas boas na nossa vida.
Por vivermos de fantasia, muitas vezes esquecemos o mundo autêntico que nos rodeia.
Se amantes, vivemos constantemente na lua, as nuvens a nossa paixão.
Para o sonhador, aquela pessoa é um ser perfeito, incomparável, insubstituível... Mas não é mera criação de sonhos, porque quando encontramos alguém que nos chama a atenção é porque realmente essa pessoa é algo com que já sonhamos há muito tempo.
E quando a morte nos olha de frente, e nos sorri, o sonhador ergue a cabeça, e sorri sem receio de volta.
E só irei um dia lamentar esse momento, se deixar a vida sem realizar o maior dos meus sonhos... sonhar com a vida que concebo, com os ideais que visiono.
Mas, a derrota é nossa consorte, porque somos incapazes de vencer o autismo dos fidalgos que passeiam pelos campos de caça em busca de mais um triunfo.
Todavia, as lágrimas que me correm pelo rosto da derrota são mais importantes que a vergonha de me calar por dentro.
Sei que morreu mais um raio de sol, porque observei a expressão mais triste que vi até hoje.
O menino do gorro amarelo sujo. Crostas no rosto e nas mãos. Lembrou-me um quadro de um qualquer pintor flamengo do século dezassete.
Um corpo que estava pesaroso e abismalmente desolado, mas que de forma ágil fintava o transito caótico da Avenida da República, com a mão suja e trémula à procura de um cêntimo junto das janela cerradas dos carros apressados.
Fitei-o por um momento. Um lapso de tempo que se perdeu naqueles olhos negros e sujos.
O rosto assustado fazia lembrar a imagem de alguém que viu toda a sua família parecer num bombardeio de Gaza, a cabeça dos pais dilacerada por um atirador furtivo em Sarajevo ou o genocídio dos amigos num atentado em Bagdad, às margens do rio Tigre.
Fiquei todo o dia a pensar como foi a vida lazarenta que esse menino levou e que esculpiu aquela expressão.
E não me sai da cabeça, o rosto amargo desse menino.
22-12-2009
Nestes dias em que a minha mente vagueia pela nebulosidade, a beleza confunde-me e o encantamento fere-me ao ver as chagas das ruas.
Sempre que vejo uma criança sofrer antevejo menos um raio de sol que brilha.
Julgo que caí na terra por acidente. Enquanto anjo tropecei certamente numa nuvem e aqui tombei.
Por essa razão sou um sonhador… um homem pacífico, distante, onde os sonhos predominam.
Sou um ser que imagina que o mundo pode ser um pouco melhor. São assim os sonhadores.
Por vezes deixamos passar desapercebido coisas boas na nossa vida.
Por vivermos de fantasia, muitas vezes esquecemos o mundo autêntico que nos rodeia.
Se amantes, vivemos constantemente na lua, as nuvens a nossa paixão.
Para o sonhador, aquela pessoa é um ser perfeito, incomparável, insubstituível... Mas não é mera criação de sonhos, porque quando encontramos alguém que nos chama a atenção é porque realmente essa pessoa é algo com que já sonhamos há muito tempo.
E quando a morte nos olha de frente, e nos sorri, o sonhador ergue a cabeça, e sorri sem receio de volta.
E só irei um dia lamentar esse momento, se deixar a vida sem realizar o maior dos meus sonhos... sonhar com a vida que concebo, com os ideais que visiono.
Mas, a derrota é nossa consorte, porque somos incapazes de vencer o autismo dos fidalgos que passeiam pelos campos de caça em busca de mais um triunfo.
Todavia, as lágrimas que me correm pelo rosto da derrota são mais importantes que a vergonha de me calar por dentro.
Sei que morreu mais um raio de sol, porque observei a expressão mais triste que vi até hoje.
O menino do gorro amarelo sujo. Crostas no rosto e nas mãos. Lembrou-me um quadro de um qualquer pintor flamengo do século dezassete.
Um corpo que estava pesaroso e abismalmente desolado, mas que de forma ágil fintava o transito caótico da Avenida da República, com a mão suja e trémula à procura de um cêntimo junto das janela cerradas dos carros apressados.
Fitei-o por um momento. Um lapso de tempo que se perdeu naqueles olhos negros e sujos.
O rosto assustado fazia lembrar a imagem de alguém que viu toda a sua família parecer num bombardeio de Gaza, a cabeça dos pais dilacerada por um atirador furtivo em Sarajevo ou o genocídio dos amigos num atentado em Bagdad, às margens do rio Tigre.
Fiquei todo o dia a pensar como foi a vida lazarenta que esse menino levou e que esculpiu aquela expressão.
E não me sai da cabeça, o rosto amargo desse menino.
22-12-2009
2 comentários:
Sonhador,
depois de ler, reler e sentir cada palavra deste texto, acho que deveria alterar o titulo do meu blogue e colovar "Sonhadora em ful time"...e só por uma simples razão, eu sinto exactamente o que tudo foi descrito neste texto...por vezes a minha mente ficou confusa sem saber se estas palavras eram suas ou minhas...
Que sensação tão bela!
Beijinhos
Susana
Os sonhadores mesmo que por vezes deixem que algo possa passar-lhes ao lado, também podem ser e devem ser atentos, caso contrário não sonhariam como sonham, não teriam como objectivo a concretização do ou, dos seus sonhos e, neste texto há uma frase que contempla isso mesmo: "Para o sonhador, aquela pessoa é um ser perfeito, incomparável, insubstituível... Mas não é mera criação de sonhos, porque quando encontramos alguém que nos chama a atenção é porque realmente essa pessoa é algo com que já sonhamos há muito tempo."
Mais uma prova de que o sonhador não está ausente, é a sua capacidade de fitar alguém e fixar esse alguém para todo o sempre, como este menino. A quantos de nós já não aconteceu o mesmo!? Pode inicialmente ser uma sensação estranha e, fica sempre connosco aquela imagem e, isto porque não somos indiferentes e, porque lá por sermos sonhadores não andamos assim tão na lua, isso é uma ideia errada que se tem daquele que sonha, são estereótipos que se criam, convivemos com eles, mas não é bem assim. Eu distingo o sonhador do distraído, do avuado, do cabeça no ar, entre outros sinónimos...
Obrigada por este momento.
Beijo pleno de Luz
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