Momento inicial
Tenho despertado com uma dor no peito e uma agonia indisfarçável.
Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho vontade de viver.
Estou triste e gostaria de ficar só.
Afasta-te sombra do infortúnio, única que me amas e segues.
Só não sei, se este é um caminho sem retorno.
Momento da catáfora
A sombra negra na coluna de mármore à minha espera.
Dás-me dois beijos e caminhas em direcção ao sol.
Vejo-te a subir o passeio e cada vez mais longe, pequenina.
Eu e a sombra negra de mão dada na penumbra.
Senti um algor desmesurado nos ossos, mas não pensei.
Perguntei-me e respondi:
“Olhas-te para trás? Eu, não.”
“Olho, agora.”
Momento mate
O vento quase que tudo levou. Interrogo-me porque não a mim?
Farei parte de algum resto com que o infortúnio me afortunou?
Ou será castigo que o acaso me ofereceu?
Choro lágrimas pálidas de medo.
Descanso meu corpo esgotado, vergado e doente.
Se morrer, morro, porque sem amor não sou gente.
Momento do purgatório
O meu destino tem sido como um cão repleto de raiva.
Persegue-me como louco rosnando ao passar dos meus passos.
Nos sulcos de um tempo longo, infértil e matreiro.
Quero fugir dele, quero passar-lhe ao lado, porque me aferra, mas acabo sempre nos seus tenebrosos braços.
Momento terminal
Eu não sou poeta, sou simplesmente sonhador.
Arrumo nas linhas dum livro imaginário as palavras dos meus sonhos.
Sem grandes ornamentos e complicações, pois surgem do fundo do coração.
Na ilusão deste sentimento, escrevo para que possa existir, ter vida.
Deixa-me ser apenas como aquela página que não foi lida.
Agora, só me resta gravar as palavras num raio de sol, e imprimi-las todas as manhãs no brilho de um sorriso dos lábios de uma criança.
3 comentários:
Meu querido Sonhador
Estou cumprindo o castigo...que afinal, se transformou em prazer de ler tão belas letras.
Choro lágrimas pálidas de medo.
Descanso meu corpo esgotado, vergado e doente.
Se morrer, morro, porque sem amor não sou gente.
Como me fala à alma.
Beijinhos
estou a seguir-te
Tem tanto a ver comigo ... :x
A vida é feita de momentos..
O do amor?
Deixo um abraço.
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