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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Paixão boémia



Julgo que tudo neste país se tornou gélido. Neste final de tarde, o frio intenso apoderou-se igualmente de mim. Tomou-me por completo.
Acordei mesmo já com este pensamento. Despertei órfão de ti… e nem o sol que de manhã venceu a batalha dos cirros e que deixei penetrar na minha pele impiedosamente, me aquece o frio glacial que passeia pela minha alma.
É nas entranhas da terra, nos ornados verdes das planícies, que busco a serenidade espiritual, quando me sinto inquieto e triste. Mas nem sempre a imaginação me traz o cheiro do rosmaninho e o odor dos teus cabelos molhados pelas gotas do suor do teu amor.
Faz do teu harmonioso corpo a manta aveludada e quente dos meus sonhos.
Apertado a ti, quero desfrutar o calor do teu peito. Já não sinto o frio, mas sim a tua pele ardente de prazer.
Quero aquecer-me nos teus braços neste Inverno. Observar a lua lá longe no infinito a escorregar pelas vidraças da janela. O vento resmunga lá fora em soluços intermitentes.
Eu não o oiço. Esqueço tudo, só para te acolher no mais profundo íntimo do meu ser.
Talvez seja nesta bebedeira de azul e vento, que eu finalmente te reencontre nas serranias do pensamento.
Quero eternizar a magia quente do momento.
As tuas mãos hábeis dançam no meu corpo nu, apenas coberto de ti. Seduzes-me. Beijo teus lábios sedentos. Mordo-os e sugo a tua língua enquanto esculpo outras estrelas na tua pele arrepiada.
O que faço e desfaço é apenas loucura! Faço e desfaço o teu corpo de mulher como um instrumento musical. Toco-o com a levidade e mestria de um pianista.
Transformo o teu corpo num piano, percorro os meus finos dedos nas teclas de ébano e marfim do teu peito como se fosses um Schimmel de cauda.
Ouço o ritmo de nossos corações. Fecho os meus olhos e partilho contigo desejos únicos, como sentir a nossa sublime melodia, tocada neste piano ardente de paixão em “legato” como se o som das notas sucessivas fosse um contínuo tal como a nossa paixão.


9 comentários:

Menina do cantinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Moi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Penélope disse...

Que maneira mais gostosa de se embriagar - de azul e de vento - dentro das serranias do pensamento...
Ah! Meu amigo, esta nossa forma de ver e de desenhar o amor, com contornos que só existem em nós... são poucas as pessoas que estão preparadas para receber algo desse jeito e nós somos tidos como loucos e, não há psicanalista que nos entenda...
Teu texto é lindo e, senti o cheiro do rosmaninho, aqui...

Penélope disse...

Esqueci de dizer esta pianista está a La Martha Argerich, interpretando Rachmaninov - concerto para piano e orquestra nº 2 - opus 18, mais precisamente adagio sustenuto, meu prefirido.

catwoman disse...

Ainda vim e deixei-me aquecer pelo calor do teu texto, esqueci o frio lá fora para me deixa encantar e embalar no calor da tua paixão. Lindo o teu texto.
Bjs.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Meu amigo
Que bebedeira maravilhosa, mas é embriaguêz de amor.
Por momentos...lembrei tempos passados.
Lindo o teu texto, poesia pura.

Beijinhos
Sonhadora

Ana Isabel disse...

Muito bonitos os teus textos.

Um abraço.

Maria Oliveira disse...

"É nas entranhas da terra, nos ornados verdes das planícies, que busco a serenidade espiritual, quando me sinto inquieto e triste."

Eu não diria de forma mais adequada para expressar o que me vai na alma de quando em vez...

E assim se vão partilhando vivências e formas de sentir...não estamos sós.

Abraço

Maria Clara disse...

O que dizer???
Sempre palavras bonitas que eu encontro por aqui.
Um beijo.
MARIA