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segunda-feira, 24 de maio de 2010

O reverso da palavra



Quero escrever a minha existência, num verso de uma folha qualquer.

Escrever palavras incorrectas, como o equívoco que agarra os meus sentidos.

Vou virar-me do avesso e dizer tudo de mim… mesmo aquilo que está calado no fundo do coração.

Porque, dizer o que está certo, gritar a frase verdadeira, perde o encanto que nela habita.

Quero colocar aquele olhar perverso, que apenas espreita e não olha.

Quero ler o poema escrito, numa folha perfeita, com palavras correctas na beira de um verso qualquer.

Quero que exista sempre uma manhã de claridade ao despertar para ver a luz do sol num voo rasante sobre o Tejo.

Quero escutar o som das gaivotas que me falam de saudade e ver os barcos que naufragam nas águas revoltas do meu peito.

Agora as tardes já se perdem no rasgo traçado pelos barcos em calmaria.

Já não quero o meu olhar libertino, nem penetrar no meu oposto.

Quero poder navegar com os olhos do passado num corpo lasso, seguir rotas por explorar e soltar sonhos multicolores para o ar.

Desamarrá-los em lembranças vagas e ancora-los no porto da melancolia, enquanto a minha alma percorre o lusco-fusco, perdida e à margem de uma vida já premente.

domingo, 16 de maio de 2010

Insónia da saudade




As minhas incertezas ocupam o espaço limitado por todas as barreiras.
A melancolia repousa no tempo roubado à realidade, num mar onde não tenho pé, onde desaprendi de nadar.
Talvez me segure a uma rocha, talvez aviste o porto, talvez não. Talvez...
Mas enquanto a rocha não sobrevém e o porto é uma miragem, a saudade vai branqueando e pretende acompanhar-me no correr breve e veloz do tempo.
A saudade foi entrando sem pedir licença.
Primeiro uma doce lembrança, depois um vago desconforto.
Tentei resisti-lhe. Riu-se de mim e atiçou sentidos para melhor me dominar.
Foi-me envolvendo num laço que, a pouco e pouco, se apertou dentro de mim.
Tentou deitar abaixo os muros das minhas certezas. Carregada de pedaços de sonho, instalou-se como se fizesse parte do rio que me percorre.
Lutei, procurei tudo o que a vida me ensinou para a enfrentar. Mas, a cada argumento meu, respondeu descobrindo o que em mim residia sem que eu visse, sem que soubesse sequer.
Não me deu tréguas e já não tento domá-la.
Sei que se acalma no olhar das palavras, nas noites em que até o sono se esconde.
E sempre que a insónia me sufoca ergo-me incauto nas margens da noite, e atiro palavras contra a porta do silêncio.

domingo, 9 de maio de 2010

Lágrimas de sangue



A anódina das tuas palavras corta-me o coração às fatias,

na réstia de amor que a distância nos permite manter.

O dia nasceu num choro compulsivo, como o meu coração.

No rosto apenas as marcas da desilusão.

O que me sai da alma e me corre pelo rosto,

é a demonstração corpórea do que temos.

São lágrimas de sangue o que choro,

lágrimas levadas pelo mar e corroídas pelo tempo!

E o tempo começa a comprimir demasiado.

Hoje perdi uma asa no meu voar.

Não quis voar até ao altar que me esperava.

Quem sabe se perdi mesmo a capacidade para voar?

Que importa se já nem voar me dá prazer…

domingo, 2 de maio de 2010

A águia e o falcão


Conta uma lenda da tribo índia sioux, que certa vez, Touro Bravo e Nuvem Azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:

- Amamo-nos tanto que vamos casar. Mas amamo-nos de tal forma que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até à morte. Diz-nos se existe algo que possamos fazer?

O velho índio, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados, disse:
- Sim! Existem coisas que poderão fazer, mas acautelo que são tarefas bastante difíceis. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo com vida, até ao terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, e trazê-la viva até mim!

Os jovens entreolharam-se e com um apaixonante abraço selaram o seu amor e partiram para cumprir a missão.

No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois apaixonados esperavam com as aves.

O velho tirou-as dos sacos e constatou que na realidade eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.

- E agora, o que faremos? Perguntaram os dois jovens.

- Agora, peguem as aves e amarrem uma à outra pelas patas com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.

Eles assim fizeram. Depois de as amarrarem nas patas soltaram as duas aves.

A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela impossibilidade de não conseguirem voar, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se contundirem.

Então o velho vendo os rostos tristes e surpreendidos dos dois jovens, disse:

- Jamais esqueçam o que estão a ver. Este é o meu conselho… Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou mais tarde, começarão a provocar feridas um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados. Libertem-se para que possam ambos voar com as vossas próprias asas. Esta lição é uma verdade no casamento, nas relações familiares, de amizade e profissionais.

Respeitem o direito das pessoas voarem rumo ao sonho delas. E lembrem-se sempre que só livres as pessoas são capazes de amar.



Fonte: Lenda índia Sioux