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sábado, 31 de outubro de 2009

YES - Soon

Coloque as asas do sonho e deixe a mente divagar ao som desta melodia desta fabulosa banda.


"Soon oh soon the light
Pass within and soothe this endless night
And wait here for you
Our reason to be here
Soon oh soon the time
All we move to gain will reach and calm
Our heart is open
Our reason to be here
Long ago, set into rhyme
Soon oh soon the light
Ours to shape for all time, ours the right
The sun will lead us
Our reason to be here
The sun will lead us
Our reason to be here
Soon oh soon the light
Ours to shape for all time, ours the right
The sun will lead us
Our reason to be here."


A primeira vez que ouvi esta música foi em 1974

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Meretriz


As pernas dela hoje estão quietas. São esguia como raízes apodrecidas que se agarram ainda à terra. Em sossego. Já não são livres.
O corpo ostenta marcas que contam a sua vida. Um corpo apenas que se usa massacra, e deita fora. Um corpo pervertido! Um corpo que fora belo e elegante como um modelo de passerelle. Agora, sobra um bocado de carne que mente quando geme, que chama de amor a todos os rostos que se atravessam com alguns pêlos na cara.
Agora, as suas pernas abertas são como dois campanários altos e sombrios, onde os gestos lânguidos dos minutos que percorrem os meandros do seu corpo, as entranhas húmidas do ventre, o bafo quente da boca.
As pernas dela, há muito tempo que não passeiam, que não correm, que não dançam. Já não se lembram do toque suave dos dedos de quem a amou dos lábios quentes que as beijavam com o ardor da paixão.
Presentemente, as suas pernas abertas são apenas testemunhas de línguas hirtas e duras, como se fossem uma matéria densa e viva, que penetra a boca quente e ávida de outro corpo, como um soluço de falso desejo que vai crescendo até se tornar violento e imperativo.
As pernas dela, já não dançam instigadas pelos sons melódicos, em frente à parede multicolor, bem desenhadas pela forma dos saltos altos que lhes vincavam a forma e a formosura.
Hoje, aquelas pernas são fantoches de diversão. Apetrechos colocados para o lado.
Aquelas pernas já não são pássaros, voando nas retorcidas calçadas de Lisboa em direcção ao amor.
As suas pernas já nem conseguem ser o que, afinal, são: pernas.
Actualmente, as pernas dela apenas escoltam as mãos frenéticas que apalpam os corpos, incapazes de sossegar dentro dos segundos, porque as mãos são extensões reais dos sentimentos do desejo enganador. Os corpos perfazem um ritmo compassado que ora se estanca para contemplar o olhar do outro, ora se apressa por não ver mais nada.
Já não fazem o que o que as outras fazem e, apesar de parecerem ainda gaivotas que mesmo tendo asas, não conseguem voar. São apenas silêncio. Um silêncio suspenso do seu corpo. Um silêncio comedido. E ela sorri-lhes, com os seus olhos caídos sobre elas: porque, na verdade, o silêncio é já a sua pele, é já o seu espírito.
Nas palavras ditas, proferidas, em surdina, com a voz quase rouca a sair de dentro da garganta, uma sensualidade profunda que rasga os segundos. E que incita e entusiasma. E que seduz e aprisiona. A inevitabilidade tamanha faz os corpos parecem unos e nunca mais se soltarem - nunca mais, enquanto ali estão.
De pernas abertas, finge que o sente. De pernas abertas, no seu interior sente-se dormente. Já não é capaz de sentir nada.
No compasso de espera entre um cliente e outro, acende um cigarro na esperança de ter um momento só seu, onde se possa encontrar a sós com o seu pensamento. Se isso ainda faz algum sentido.
Sentido, apenas a nudez mística do que faz, e a fonética e a semântica quando no final da batalha corporal ainda lhe chamam: “Amor”.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ter consciência dói



Hoje gostava de escrever um poema, mas a tristeza assola a minha mão amputada de palavras nobres, a alma estraçalhada de ideias e o coração em compasso acelerado, mas desajeitado de rimas.
Quero lá saber de rimas.
Também não existem duas árvores iguais.
Penso e escrevo como a variedade das flores que encontro no campo.
Olho e comovo-me quando aprecio a mistura de cores que delas brotam.
Olho e comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado.
Olho e comovo-me quando olho para o branco do papel tingido por rasgos negros feitos com a minha mão.
Quero escrever de forma natural como a brisa que me afaga o rosto.
Quero ser livre como a água que corre no chão oblíquo, quero ser livre de mostrar a cor da minha alma.
Quero ser livre como o lácteo da folha de papel.
Quero ser livre como a brisa que se levanta ao fim da tarde no estio.
Mas, sinto-me preso como um pássaro sem asas, preso ao chão com amarras.
Sinto-me preso por querer voar e não poder.
Quero correr, quero fugir daquela parede bege que me sufoca com a falta de ar que me faz pesar os alvéolos. Magoa quando respiro.
Hoje, vou saltar pela janela e correr para longe, sem olhar para trás.
Sei que a vida ainda me espera. Só que quanto mais vivo, menos me conheço!
O meu interior é compartilhado, talvez seja por muitos, ou por ninguém.
Mas certamente serei alguém que não é de ninguém.
Habito dias tranquilos, outros como o mar revolto.
Momentos em que me sinto forte, outros em que me sinto carente. Mas mesmo assim, sou gente.
Quero descobrir quem sou. Sei que é deveras complexo, porque quanto mais me procuro, menos me descubro. Muitas vezes apaixonado, outras vezes na solidão do só.
Eu que não sou um homem de fé perdi a fé nos homens, perdi a fé em mim.
Porque sou diferente da maioria? Chega! Vou fazer como toda a gente.
Não suporto mais. Não quero saber de mais, porque a vida não foi feita para se viver assim.
Não me interessa se um dia morro à fome. Não me importa saber do papelão e do cobertor que vi há pouco no chão à porta da pequena capela.
Já não me indigno por saber que vivemos num mundo injusto.
Desisti. Não quero saber. Não quero saber do espoliado, do sofredor. Quero ser igual aos outros. A partir de hoje encolho os ombros e não quero mais saber. Afinal quem por mim sofre?
Quem em mim pensa? Tu? Ou tu?
Ninguém me responde. As respostas seriam certamente as mesmas de sempre. Os pensamentos iguais e à tua semelhança.
Será sacrilégio perder a fé? Isso importa? Fará de mim um homem mais feliz?
Não sei, não quero saber e não quero acordar.
A realidade magoa. Não quero sofrer mais. Não quero ter consciência.


Porque ter consciência dói.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sim, um homem também chora, quando parte.

"Um homem também chora quando assim tem de ser"
Pedro Abrunhosa

Ontem acordei com lágrimas no coração.
Olhei o céu durante o dia sempre com os olhos embaciados de tristeza.
Á noite… adormeci com o excedente das lágrimas a inundarem-me a alma.
Quando um homem chora, será que a dor se dilui?
Quero chorar até que as lágrimas me abandonem, como quem mostra desespero por escorrer num rosto molhado de dor e aflição!
Chorei diante do espelho, enquanto barbeava o rosto atestado de mágoa.
Lágrimas efervescentes transbordam-me do peito alagado de dor.
A primeira gota caiu-me sobre a face, escorreu-me pela têmpora e, delineou-me o contorno do maxilar, indo finalmente parar junto ao queixo numa quietude ameaçada pela cruel gravidade.
Já não sabia se conseguia mais chorar sem na realidade ter chorado. Era urgente chorar o passado, chora-lo todo, o mal amado, o feliz, o desgraçado!
Quero chorar para poder criar um lago onde ficarei submerso e escondido, à espera que o sol se ponha, onde ansiarei para que algo aconteça que contigo se relacione!
A chuva ainda não cai, mas a face continua acoitada por gotas escorregadias que surfam os contornos do meu rosto desgastado.
Quero chorar para branquear o meu passado, presente e futuro.
Afinal um homem também chora.
Choro quando amo.
Choro quando não me amam, quando sinto o meu mundo a esgotar.
Quero chorar porque não consigo aceitar a minha sinceridade, mesmo sabendo que quase tudo igual ficou independentemente da minha verdade!
Quero chorar, mesmo que me sinta mal e submeta o meu coração a uma descarga de aflição!
Sim, um homem também chora, quando parte.
Até sempre!

sábado, 17 de outubro de 2009

Esvoaçar de borboletas


Esta estrada virtual cheia de muros de um lado e do outro, que nos permite esconder tabus e preconceitos, dá-nos a protecção segura e necessária para termos coragem de desabafar anormalidades que não conseguimos quando enfrentamos os olhos a quem nos escuta.
Quando faço a minha ronda tal vigilante que tenta encontrar algo de anormal no seu percurso, muitos pensamentos me passam pelo juízo e porque não pela alma.
Será que esta espécie de diário que tanta gente passou a saborear, é de facto um “gritar” da dor que todos temos vontade de expelir?
Será que com o passar dos anos, do progresso, somos também cada vez mais infelizes? Cada vez mais isolados?
Embora não tenha formação filosófica para tal, perco-me a ler pedaços que encontro nesta sinuosa estrada do progresso.
Gosto de ler e principalmente conjecturar o “sentir” de quem escreve… e tiro sempre a mesma conclusão.
O ser humano é por natureza um ser insatisfeito, eventualmente seremos o animal, menos adaptado à sociedade que construiu.
Somos o animal que mais medo esconde, e tal como afirmo no meu livro “O lado escuro da lua”… “temos medo constante da solidão, da loucura, do desespero de não ser ninguém, da frustração, do medo de ter medo, o terror de voltar a estar no lado escuro da lua.”
Julgo que tentamos sempre perseguir a perfeição e esquecemos que somos animais que surgiram na terra, e que como as outras espécies que connosco coabitam, temos desejos, medos, frustrações… mas dizem vocês, sim, mas somos racionais.
Sem dúvida que somos, somos racionais, mas racionais particularmente para o infortúnio.
Lógicos para matar por inveja, por gula.
Pensantes para construirmos engenhos que mais dia, menos dia, servirão para a destruição do planeta.
Acertados, para tramarmos o parceiro.
Sensatos para proliferar guerras inúteis.
Prudentes para ferir o nosso semelhante.
Não! O meu mundo nunca foi totalmente azul, nem a minha vida foi sempre colorida como um arco-íris. Olho o negro céu, e confesso que por breves momentos, consigo ver algumas nuvens sombrias.
Por vezes quero gritar: Que se lixem todos estes pseudo racionais!
De manhã e como o faço todos os dias, faço a minha viagem de comboio até Lisboa.
Gosto de observar os comportamentos, os rostos, os sorrisos e até os bocejos.
Quando algo me prende a atenção, é uma simbiose entre nós apertados e borboletas no estômago.
Hoje assisti a um casal de idosos falarem dos netos e senti essas borboletas a esvoaçar entre as suas sábias palavras.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fogo posto


Boa noite velha amiga! Sabes, se fosse agora, talvez não o fizesse. Não sei, talvez me retraísse, ou mesmo abdicasse de tudo.
Sabes que esta noite não parece tão acolhedora, este frio não é tão propício e, pior que tudo, não estou a ter o prazer que esperava. Por isso, se fosse agora, provavelmente não o faria.
Mas é tarde demais.
Está feito. Posso arrepender-me, e arrependo-me, mas não há mais nada a fazer.
É por essa razão que te escrevo. Para que um dia, quem sabe daqui a muitos, muitos anos, sejas capaz de me perdoar.
Perdoar não digo, entender também não. Já me basta a cólera que vais sentir quando vires o que eu fiz. Ou quem sabe, te acalme.
A minha ira não acalmou, por isso é que escrevo o que escrevo e fiz o que fiz.
Sim, sei que não é desculpa, de facto não é, mas não me consegui ver livre da raiva e ela tomou conta de mim. Guiou-me o corpo e essencialmente as mãos.
Levou-me até esta casa onde fomos, em tempos idos, felizes nas noites de luar brilhante, quando fazíamos amor no chão de pedra, isolados do mundo e da civilização por um pinhal maior que o pinhal de D. Diniz, quando, abraçados, jurávamos amor e paixão eterna e a chama ténue nos consumia pela noite dentro.
Agora o fogo consome a casa, daqui a pouco o pinhal, talvez seja capaz de me cercar sem eu conseguir fugir e me permita a honra de ser imolado por ele.
Quem sabe carbonize o meu corpo e esta carta e tu não chegues a lê-la nem a perceber porque o fiz.
Queria chorar agora mas não consigo desviar os olhos do fogo.
Dança à minha frente, chama-me, goza comigo, excita-me, enerva-me e intriga-me.
A paixão do vermelho e laranja, o som da madeira a crepitar, as faúlhas que se soltam no ar numa alforria eterna.
Olha velha amiga vou só ali acender mais um cigarro no fogo, para o apreciar melhor, para ser como ele.
Desculpa-me o que fiz. Mas não esqueças quem eu fui.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ontem, hoje e amanhã




Existem momentos em que me sinto mais velho que o tempo, noutros, manifesta-se em mim um aroma a talco como o de um recém-nascido.
Ontem fui actor de uma película muda, a preto e branco, hoje sou espectador de mim mesmo. Sinto e vivo mais.
Nos bailes da vida onde ontem dançava leve e solto de movimentos, mas acanhado de sentimentos, hoje espectador, danço com todas as mulheres do mundo, todos os ritmos, rio todos os risos e troteio todas as músicas como as soubesse de cor e salteado. Cada estrofe, um momento de vida. Cada refrão, um momento de amor.
Ontem montei cenários de sensações, iluminados por lâmpadas de néon. Hoje, os cenários são albergues de desvalidas recordações, visionados apenas pelo luar, na paisagem lunar dos meus sonhos feitos de odores vividos, de mulheres que amei.
Como diz uma amiga… “Estou onde não estou, sinto sem expressão o que ficou por não estar.” Como te entendo. Eu completo-te verbalizando, que eu só estou bem onde não estou, só quero ir onde não vou, amar quem não devo e fugir onde só me perco.
Em tantos mares naufraguei sem nau que me abrigasse, tantas bibliotecas visitei que me perdi nas páginas de copiosos livros.
Em tanta cama repousei abandonando-me à sorte de frívolos amores, que em mim amadureceram. Alguns, convidando-me a desvirginar-lhe a alma. Também os houve, que me resgataram deste claustro de fobias e eu, sequioso mostrei-lhes os meus olhos despidos das mazelas do mundo olhar puro, virgem de vida e morte, inocente como um mito.
Ontem nada me doía, hoje dói-me o peito, a luz baralha-se-me a mente, relampeja-me em trovões, e estes zumbem-me nos ouvidos.
Ontem lia livros incendiados de paixão e sonhava com o amor sentido e genuíno.
Hoje, como um doido no escuro a vociferar impropérios, o meu punho inflamado e empolado de tanto rodar, os dedos tortos, os óculos baços, as canetas roídas, gastas e amontoadas, o quarto sem luz e no entanto escrevo e escrevo segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia.
Na ausência de papel escrevo no corpo. Braços, pernas, tronco, cabeça, o meu corpo polissilábico, pleno de azul e eu sabendo, nos momentos em que começo a fraquejar, que a luta apenas está a principiar, segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia.
Hoje, as portadas da janela permanecem abertas, não me dei ao trabalho de as fechar, e também não me apetece mexer mais que a minha mão e o antebraço e mover os olhos sobre este caderno que tenho diante de mim, tão cheio de palavras, frases, expressões, poemas e textos.
Será que depois de ler o que escrevi hoje, de uma forma leve e espontânea acreditam que um amor e uma cabana tenham algum significado na minha forma de estar ou de escrever?
Será que sou mesmo romântico?
Será que penso demais?
Será que sonho com o impossível?
São muitos os que me perguntam quem me fez mal, quem me tornou tão triste, por aquilo que escrevo. São muitos os que deduzem que devo ser uma pessoa de bem com a vida. São muitos os que me acham diferente, são muitos os que me fazem perguntas às quais não sei responder, nem à maioria delas um dia saberei responder (tenho consciência das minhas limitações), porém… hoje chegou ao fim as continuas questões sem resposta. Existirá alguém por detrás de todas as minhas palavras?
Haverá?
Quanto a mim, guardo o meu segredo onde sempre o guardei, dentro de uma caixinha, e de onde sai de quando em vez, uma verdade, uma mentira, um sorriso, uma lágrima.
Sou um contador de histórias e sentimentos.
E agora vou levantar-me, erguer-me de novo, se cair, levanto-me.
Pode custar, pode até doer, mas a força de vontade tem que ser maior que a dor do embate no chão, e ainda que fiquem marcas, tenho que aprender a viver com elas.
Fazem parte de mim, e de um processo, que se chama Vida. As coisas simples, que por vezes, teimamos em complicar.
No entanto, ainda é cedo. Digo para mim, ainda que morra amanhã. Ainda é cedo, o amor ainda vai alto, claro que sim, um dia chegarei lá, e sem me dar conta, hei-de vê-lo desabrochar. Direi com ênfase, encosta os teus gélidos lábios à minha boca de pedra.
O dia irá ser enfrentado de frente e um de cada vez.
Agora, deixem-me estar.