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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Uivo


O mar azul emanava o seu odor matinal que lhe invadia as narinas e lhe atulhava os pulmões de ar fresco.
O mar como companheiro dos bons e maus momentos, a testemunha de todos os sorrisos e de todas as lágrimas. Com ele partilhava a dúvida, o gosto da incerteza e o medo do futuro sempre tão incógnito.
Como resposta só obteve a espuma daquela água tão pura que castigava as rochas e invadia o infinito areal. Sentou-se com a cabeça estonteante de vazia.
Olhou para as dunas que pareciam cogumelos gigantes. Quando retomou o olhar apenas descortinou no horizonte uma mulher linda, coberta de branco onde ele se dissolvia numa escolha impossível.
Sentiu os diversos aromas que o cercavam. Como em transe e aos poucos foi-se aproximando e ficou preso aos olhos dela que cheiravam a mar.
Afagou-lhe os cabelos lisos cor azeviche atraindo a sua cabeça para o seu peito e com firmeza entrelaçou-lhe a cintura fina num acto de prazer inimaginável onde a fusão foi possível tão-somente por magia.
O corpo ofegou como um todo e, no mesmo momento em que consumia todo aquele mar, ele, num último uivo lancinante de prazer, espalhou sobre ela as ondas do seu amor.
Naquele silêncio de corpos, um último uivo, dela, fez-se ouvir pela encosta abaixo, no preciso momento em que os primeiros raios do astro-rei começavam de longe, a invadir a velha igreja.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sonhos meus...



Os meus sonhos são encrespados como as águas revoltas, gélidas e salgadas.


São feitos de reflexos inatos, incontroláveis como as experiências de Pavlov.

Transmitem escárnio como a Gaivota de Tchecov, são santos e pecadores como o crime do Padre Amaro e por vezes sedosos e azulados como as lágrimas límpidas do Tamisa.


São gritos à autonomia e à liberdade apregoados por Leminski e, parecem um arco-íris como os olhos de Natassja Kinski.


São extensos, muitas das vezes tristes e pernoitados, tais prostitutas prostrada à beira da estrada.


Pobres e eternos lutadores como Capitães de Areia de Amado e feitos de palavras negras, como A Canção Desesperada de Pablo Neruda.


Devassos e lascivos como as Memórias de Uma Moça bem-comportada contados por Simone Beauvoir.


São miseráveis e prostituídos como as sarcásticas personagens de Victor Hugo e timbrados nas fragrâncias de Chanel nº5 de pau-rosa.


São vividos e compostos nas quatro estações de Vivaldi ou como Um ensaio sobre a cegueira de alguns Saramagos bem entrosados.


São corpos nus soltando flechas de cupido em busca de Musas e Graças e esculpidos em gelo por tesouras mágicas nas mãos de Eduardo, como num conto de fadas da minha meninice.



São simplesmente sonhos




domingo, 16 de agosto de 2009

Vem!


Vem ternamente trazer-me o teu coração, anda que a noite é calma e hás-de dar-me razão. Vem devagar, pé ante pé, sem medo. Dou-te a mão no escuro. Amo-te em segredo.

Tenho medo!

Não tenhas, hei-de dar-te o mundo hoje.

O mundo?

O mundo inteiro que trago no coração!

Choro compulsivamente a alma tem destas coisas, choro porque sei que longe ou perto estaremos sempre unidos.

Vem hoje ainda em rebate trazer-me o teu coração, porque quero ter-te aqui na minha frente para chorar a olhar-te. Quero ter-te só por um instante e sentir-te a olhar-me. Quero-te ainda aqui... e aqui estás... porque o querer é magia!
Vem!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

No colo do vento


Deito-me no colo do vento, aconchego-me e sulco o seu peito de mel, sossego a calma e a ânsia que à muito me aflige.

E na planície do jamais, caminho de mãos dadas com o fogo do teu corpo!

Perco-me na chama das tuas palavras, bebo a tua língua nas palavras de amor que me dás!

Salpicas-me a alma de manhãs de nevoeiro, que traça em mim êxtases fabulosos de céus murmurando em uníssono.

Carinhos e destinos traçados além!

Corro à desfilada no teu verbo,

Abraço o teu desejo,

Mas não te encontro... como nos meus húmidos sonhos.