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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Alguém que me faz falta



Ontem senti-me triste. Hoje experimento uma sensação de amargo. E amanhã? Quem sabe aparente uma nostalgia.
Antes do amanhã, hoje vou tentar virar-me do avesso. Ver o interior de mim, respirar por todos os alvéolos dos meus carcomidos pulmões. Depois narrar para mim próprio a perpétua angústia que me acompanha há muito.
Volto a respirar fundo e agarro o ar com toda a força. Nos meus ouvidos um silêncio imponderável e agudo capaz de me rebentar os tímpanos.
Deixo fugir o ar, num esforço que leve com ele a tristeza que me enamora. Já não passo sem ela. Entre os meus lábios, uma muralha feita de espera. Vai-te com Deus.
Volto a engolir o ar frio que me resfria o corpo. Os olhos, marejados de sal sob o véu da ausência de alguém que me faz falta.
Uma insaciável fome de escorrer pelos contornos de alguém que me faz sentir carência. Uma enorme vontade de gritar até a voz me doer de rouquidão.
Existe em mim uma ferida aberta, sem sangue que me consome o corpo e a alma.
Ontem sentia-me triste, hoje um sabor a fel na boca.
Liberto-me do ar que me aprisiona. Corro para o jardim da minha concepção. Vejo árvores enormes vergadas pelo peso do tempo. Olho as papoilas vermelhas da cor da minha seiva.
Quero ser a abelha para em cópula colher o mel que existe no gineceu do teu corpo. Beber o mel no cálice do teu coração.
Transformar-me em vento sereno para te poder polinizar e dar-te o fruto gerado nos carpelos da minha imaginação.

2010-02-23

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Paixão boémia



Julgo que tudo neste país se tornou gélido. Neste final de tarde, o frio intenso apoderou-se igualmente de mim. Tomou-me por completo.
Acordei mesmo já com este pensamento. Despertei órfão de ti… e nem o sol que de manhã venceu a batalha dos cirros e que deixei penetrar na minha pele impiedosamente, me aquece o frio glacial que passeia pela minha alma.
É nas entranhas da terra, nos ornados verdes das planícies, que busco a serenidade espiritual, quando me sinto inquieto e triste. Mas nem sempre a imaginação me traz o cheiro do rosmaninho e o odor dos teus cabelos molhados pelas gotas do suor do teu amor.
Faz do teu harmonioso corpo a manta aveludada e quente dos meus sonhos.
Apertado a ti, quero desfrutar o calor do teu peito. Já não sinto o frio, mas sim a tua pele ardente de prazer.
Quero aquecer-me nos teus braços neste Inverno. Observar a lua lá longe no infinito a escorregar pelas vidraças da janela. O vento resmunga lá fora em soluços intermitentes.
Eu não o oiço. Esqueço tudo, só para te acolher no mais profundo íntimo do meu ser.
Talvez seja nesta bebedeira de azul e vento, que eu finalmente te reencontre nas serranias do pensamento.
Quero eternizar a magia quente do momento.
As tuas mãos hábeis dançam no meu corpo nu, apenas coberto de ti. Seduzes-me. Beijo teus lábios sedentos. Mordo-os e sugo a tua língua enquanto esculpo outras estrelas na tua pele arrepiada.
O que faço e desfaço é apenas loucura! Faço e desfaço o teu corpo de mulher como um instrumento musical. Toco-o com a levidade e mestria de um pianista.
Transformo o teu corpo num piano, percorro os meus finos dedos nas teclas de ébano e marfim do teu peito como se fosses um Schimmel de cauda.
Ouço o ritmo de nossos corações. Fecho os meus olhos e partilho contigo desejos únicos, como sentir a nossa sublime melodia, tocada neste piano ardente de paixão em “legato” como se o som das notas sucessivas fosse um contínuo tal como a nossa paixão.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Amor de perdição


Perdido de mim, como habitualmente, sento-me…
A perca de um familiar é agressiva, a perdição é ainda maior…
Perco-me em monólogos mudos numa qualquer mesa de uma qualquer esplanada. Soltam-se fumos. Um acastanhado de um cigarro mal queimado e outro cálido e odorífero da chávena cheia de café diante de mim.
Contemplo a minha mente a fluir pelo teu corpo. À medida que esta melodia invade o ambiente, fico estático... hipnotizado...
Sobressais do breu que me envolve. A tua áurea rasga a escuridão do cenário como uma estrela cadente em noite de Lua nova, como gritos a rasgar o silêncio de morte.
Arrefece o café enquanto batem os dedos redondos no tampo ao som de uma música surda tocada pela orquestra que, simplesmente, não existe.
Mas eu oiço o preguear dos tambores ao som do coração. Rufam como exércitos de aves rumo a norte, em convulsões poéticas. Recordo o teu corpo que copia as chamas da fogueira que nos aquece.
Liberto a mente, sempre em espasmos de lembranças e vejo-te a dançar solta como se não pertencesses a qualquer parte.
Pára a música, cai o pano e retorno desse mundo à parte.
Como é lindo o teu bailado. Balanceias o ventre lentamente de olhos cerrados e com um singelo sorriso nos lábios. Serpenteias as tuas mãos ao som da música. Danças como folhas ao vento na alvorada do meu Outono.
Morre-me o cigarro aos poucos na minha mão. A cadeira vazia ao meu lado confidencia-me a tua distância.
Puxa-me para a realidade de hoje.
O vento folheia o jornal que fala de notícia de tudo menos de ti. O telemóvel inerte no tampo da mesa não toca. As horas não passam. Venha uma lua nova que me devolva a ti.
A chávena agora vazia continua a arrefecer. Abraço-a na tentativa fútil de prender o calor, mas este foge. Volto a abraça-la na tentativa de aquecer as mãos e o coração gélido da ausência do amor, de ti.
Nem te vi partir… volta depressa.
O tempo corre tão rápido que tenho medo de não ter o meu tempo para te amar como gosto e sei amar com a totalidade do meu corpo, da alma e do coração.

Escrito hoje às 21:00

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Talvez o amor seja como o mar

Talvez o amor seja como o mar, que nos olha e depois nos deixa passar. Que nos refresca o olhar depois de tanto nos fazer chorar. Disfarça-nos as tristezas de escuros dias e depois desperta-nos para a vida.
É como o sabor do sal e a luz do sol antes do luar. O segredo que se refugia numa caixa de bonecas, assim, sem mais, sem ninguém o imaginar. O amor é como as lágrimas que vêm do mar. As palavras encerradas num resto de uma caixa de cartão, o sonho de uma rapariga, a viagem junto a uma praia antiga.
Lembrava com melancolia os quinze anos e o beijo de uma vizinha mulher.
Conhecia-a de habitar o quinto esquerdo do meu prédio. Éramos inquilinos do tédio, de nos cruzarmos nas escadas, de a apanhar, e ela a mim, a abrir a caixa do correio para a aliviar todos os dias de publicidade enganosa e contas que nunca pagava.
Eu era aquele rapazinho esquisito de roupa quente e humores glaciais que dizia bom dia, boa tarde, pouco mais.
Ela, já mulher, com cara de miúda amuada, nada uma flor de estufa, queria ser coisas e queria sê-las hoje. Como era que dizia? Hoje quero ser. Isto, aquilo, tudo. Muito inteligente, mas sem muita paciência para o som da tua própria voz, que eu adorava.
O amor não aconteceria, não fosse o carteiro ter-se enganado, naquele dia de luz fugidia mas calorosa e meiga de uma Primavera que chegava de avanço à hora marcada.
Desci o último lance de escadas no meu casaco preto, funesto, esfiapado e fui dar contigo a largar um cachão de envelopes directamente da tua caixa de correio para o balde do lixo.
Tudo lá caiu, com o roçar surdo de papel com papel abafado pelo rebentar dos teus balões perfeitos de pastilha elástica sabor a tangerina.
Não me viste. Seguravas uma carta com dedos de anéis grandes e ruidosos e unhas de gel. O teu semblante era de concentração, arrebanhando todos os pontinhos de espírito num lugar só teu, não os deixando desgarrar. E eu em silêncio, à espera, com medo de fracturar a linha ao teu pensamento. Até que, sem aviso, te viraste para mim, olhos como eu nunca vira, e disseste:
- Olá!
Calaste-te, depois disso, e eu nada disse. Fiquei a olhar-te, acho que com a minha cara de sempre, nem boa nem má, mas já estava completamente perdido de amores por ti. Portanto, devia ser boa.
Fizeste um balão que cresceu perfeito dos teus lábios rosa até esconder toda a tua cara de mim, por momentos e, quando explodiu, a pastilha desapareceu dentro da tua boca por artes mágicas e ali estavas tu outra vez e estendeste-me a carta ao comprido de um braço tatuado.
- És o Rui?
- Amo-te – pensei.
- Sim – disse.
- Parabéns… Foste seleccionado para um sorteio final das “Selecções do Reader’s Digest”. Podes ganhar duzentos e cinquenta mil euros. O carteiro enganou-se e meteu isso na minha caixa. Ele deve julgar que eu e tu somos parecidos.
Estendeste-me a mão.
– Sou a Carla.
- Sou teu – pensei.
- Sou o Rui - disse.
- Eu sei – disseste tu, aproximaste-te e debruçaste o teu corpo que cheirava a pastilha elástica e a sol sobre mim e a tua unha de gel sapateou no envelope.
– Diz aqui, não diz? Rui.
Larguei o envelope no balde do lixo, junto com a tua correspondência, e tu sorriste e aquele dia assim visto do teu sorriso parecia cheio de promessas que os teus olhos garantiam cumprir. Depois, abri a minha caixa de correio e despejei todo o conteúdo no mesmo balde e começaste a rir às gargalhadas com aquele meu último triunfo pessoal sobre todas as coisas e passado um bocadinho também eu estava a rir e passado outro bocadinho também eu estava a rir às gargalhadas. Então, disseste:
- És espectacular!
- Sou? – Perguntei.
- … Teu – pensei.
- Sim! – O teu grito de confirmação deve ter ecoado escadas acima até ao nono andar assustando todos os inquilinos que se deixavam dormir até mais tarde na esperança de com isso resolverem todos os seus problemas.
- Claro que és! Acabaste de tomar consciência da tua liberdade e pelo teu ar consigo perceber que gostaste. É como seres adulto e por um feliz acaso reencontrares-te com aquela inspiração própria de criança e aplicá-la a uma data de coisas. Reiniciaste a tua mente, não sentes? Não sentes a estrutura do teu cérebro a alterar-se?
- Isso é… - hesitei - porque estou apaixonado por ti – pensei - Pois é! É mesmo!
E ficaste a olhar para mim enquanto eu absorvia as cores arrebatadas da nova realidade e permitia que o sentimento de felicidade que desprendias tão generosamente me preenchesse com uma energia viral, isolando-me para sempre da melancolia azeda da solidão e algo em mim dizia-me “estás à vontade para interromper este estado de desvario quando te apetecer”, mas eu não lhe dei ouvidos. Era como se pudesse finalmente começar a viver a minha vida em vez de me deixar ficar sentado à espera. E então, parvo, eu disse:
- Quero casar contigo.
Foi estranho, eu sei, mas tu riste-te e disseste:
- Casar? Mas ainda nem nos beijámos.
E eu, caindo em mim, pensei:
- És capaz de ter razão. Não ligues.
Mas, gravemente parvo, disse:
- Não preciso de te beijar para saber que te amo.
Beijei-te à mesma.
Mudei de linha, saltei o verso. Escondi-me atrás das árvores de frutos vermelhos e brilhantes, tentei resistir, mas em pouco tempo mordi o pecado da diferença.
Há um momento suspenso no vazio do tempo. Um momento em que a vida nos mostra o quão frágeis somos e o nada em que nos tornamos num instante. Perturbante e errante ante o pressentimento do inevitável.
Resolvi pensar! Tranquei-me numa casca de noz. Pedi emprestado um quarto da lua e esmaguei a ilusão com dois ramos de salsa. Mandei passear o lençol pela avenida do amor.
Entretanto, já havia pensado!

(Baseado num texto que li algures)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Despe-me





Não sei o que sou, nem sequer porque escrevo.
Apenas sinto esta carência dentro do meu ser e cravada no meu coração.
Preciso catapultar o pensamento, embriagar-me com as emoções que transformo em palavras.
Existo, penso, mas não encontro a simbiose desta essência.
Conheço os meus limites e a vida que corre em desencontros.
Até do teu nome já me esqueci porque não te vejo o tempo necessário para o fixar.
Lembro apenas o rosto e a silhueta perfeita. Sinto nas minhas mãos as lágrimas que te aparei quando escorregaram dos teus olhos negros da cor da minha alma.
Vem me conhecer como sou. Podes chamar-me alienado por querer o sol morno e prateado.
É miragem, bem sei, rápida, momentânea, mas quero-me assim, louco.
Vem, rompe as barreiras e as vestes do marasmo e tenta descobrir-me em mim.
Ama-me com fúria desmedida retalhando artérias e veias até me encontrares.
Vem e funde-te em mim. Embriaga-me no calor do teu carinho.
Despe-me as palavras do impulso que me envolvem nesta camuflagem que me inibe de gestos meigos e de odores silvestres.
Despe-me de segredos, medos, vontades contidas em soluços.
Sim, chama-me louco. É, quero ser louco, assim. Sei que sou instável, mas brilhante como o sol. Sei que dou luz, mas que por vezes escureço.
Sou timido como a lua que me ilumina, acanhado como ela que nem sempre mostra a cara!
Chama-me louco, serei!
Amor demente é andar desamparado na esterilidade da solidão, e ser descoberto pelo bater do teu coração.


2010-02-01