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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Enfermidade actual, ou dor de amor?


Hoje tenho o coração amortalhado.
Quero gritar, mas a voz doí-me no peito.
Tenho que desaparecer, mas não sei para onde.
Vou vestir igualmente a alma de negro e procurar um curandeiro de amor.



De repente, lembrei-me que a minha infância existiu.
O ano de 1959 corria de feição numa vila do interior ribatejano. Terra de azeitonas e azeite o odor dos lagares ainda hoje me invade as narinas. Em Março, o pranto de um recém-nascido ecoou na rua, oriundo de uma casinha pintada de amarelo.
Meio século me separa da casinha amarela, dos lagares e do odor do azeite.
Não fui eu que escolhi o silêncio do tempo, nem descobri o grito do fogo.
Não fugi do pó da guerra, que os touros levantavam quando devastavam a planície do meu olhar.
Nunca me assustei com o estrondo do trovão durante a tempestade nas noites de Inverno.
Nunca me senti sequer desconfortável com as vestes da sombra no meu quarto sombrio, nem entre os farrapos da tristeza que me vestiam.
Mas a vida, no seu ritmo empolgante, leva-nos para longe, a esquecer algumas coisas que, de tão inesquecíveis, julgamos nunca esquecer.
Existem dias em que sonho e revivo os meus seis anos, mas já não me circula nas veias o sangue dos pactos de petizes nem conheço mais as ruas e vielas da vila que antes me cabia na palma da mão.
De repente, estou ali, sozinho. O passado, ali à minha frente, teimando em dizer-me que no presente deveria encontrar formas de o preservar no futuro.
Sim, porque o passado faz parte de nós. Termos deambulado pelo passado faz com que exista presente e só com ele poderemos construir o futuro.
Ali estava eu, menino, puro, longe dos vícios da vida, da podridão da sociedade adulta, da constante competitividade que nos cega diariamente e nos priva do azul cristalino das águas da nossa imaculada meninice.
Voei. De repente esvoacei pelos dias mais recônditos, de maravilhosas aventuras, de momentos de amargura, mas garantidamente de grande inocência e felicidade.
Estava de volta. Despertei da letargia e estava feliz. No entanto ao abrir os olhos, chorei lágrimas de saudade. Isolei-me da solidão que me acompanha desde menino. Envolvi-me amorosamente com a puta da vida ali para os lados da linha de Sintra.
Tendo apenas essa desditosa como companhia, eu percebi que ninguém pode acabar com a solidão da sua vida sem primeiro acabar com a solidão que existe dentro da vida.
E se, a solidão é um estado de espírito atraímos igualmente alguém solitário.
Tentei um dia um relacionamento. Nada me deu. Conclui que um caso amoroso não me dá nada que eu não tenha.
Todos nós podemos ser felizes sozinhos, mas é bom ser feliz acompanhado. Ser infeliz sozinho é garantia certa de ser infeliz acompanhado.
Pois foi o que me sucedeu.
Percorri as obscuras ruelas do amor para encontrar finalmente um amor ideal, um amor fiel.
Ao fim de alguns meses, verifiquei que a fidelidade por coerção, por medo de perder, por ameaça é o caminho mais rápido para a infidelidade. O prazer da liberdade tinha-me sido retirado. Não foi uma escolha a fidelidade, foi eventualmente uma obrigação.
Farto do destino, encontrei uma mente aberta, moderna, livre de tabus.
Evaporou-se… a mente e condensaram-se os tabus.
É verdade leitores, todos relacionamentos abertos, mais cedo, ou mais tarde acabam. Porque num relacionamento desse calibre um dia um dos amantes acabará por encontrar uma outra oportunidade de relação e escolhe essa outra possibilidade por ser mais interessante e por estar sendo escolhido.
Venho pensando seriamente em tudo isto. Que querem…
Depois observo e leio os temas da maioria dos blogues, em que a infelicidade, o amor infeliz, a relação não correspondida impera e é um mote repetitivo.
Talvez esteja de facto embusteado e esteja a ser influenciado pela minha infância tardia.
Quem sabe se esta forma de olhar o mundo se deve a esta eterna alegria de ainda o olhar com os olhos de uma criança crescida.

26-01-2010

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Prémio Lobinho





Recebi o prémio Lobinho, do blogue http://tatuagens-carla.blogspot.com/ com muito agrado. Trata- se de um belo desafio. Obrigado Carla pelo carinho e distinção.

Aa regras são: nomear cinco blogs e responder a algumas perguntas.

Como sempre, não vou respeitar totalmente as regras por ser um belo desafio. Por esse motivo, quem quizer, é pegar e responder.
 
 
a) Tens medo de quê? Entre outros, arrepia-me pensar no eventual sofrimento que possa vir a ter até ao dia final.

b) Tens algum guilty pleasure? Não. Não gosto de estrangeirismos.

c) Farias alguma "loucura" por amor/amizade? Se considerarmos a entrega, a conivência, a cumplicidade plena sim, já fiz muita coisa louca por amor e tenciono continuar a fazer. Afinal o amor é louco, senão não faria sentido.

d) Qual o teu maior sonho? [Não vale responder Paz, Amor e Felicidade;)] Penso que tentar viver os meus sonhos sempre que possível de modo a encontrar a verdadeira felicidade.

e)Nos momentos de tristeza, abatimento, isolas-te ou preferes colo? (Não vale brincar) Nos momentos de tristeza isolo-me e escrevo até que doam os dedos.

f) Entre uma pessoa extrovertida e outra introvertida, qual seria a escolha abstracta? Dado que me considero uma pessoa introvertida, escolheria uma extrovertida. Os pólos atraem-se.

g) Sentes que te sentes bem na vida, ou há insatisfações para além do desejável? Quem ler os meus textos descobrirá facilmente.

h) Consideras-te mais crítico ou mais ponderado? (mesmo sabendo que há críticas ponderadas) Por norma sou ponderado e quando faço criticas tento que sejam construtivas. Não sei se consigo sempre esse objectivo.

i) Julgas-te impulsivo, de fazer filmes, paciente ou... (define o que te julgas no geral) Sou demasiado impulsivo, e demasiado sensível… reconheço. Talvez a conjugação de ambas provoquem a faísca.

j) Consegues desejar mal a alguém e eventualmente concretizar? (Responder com sinceridade) Nunca desejei mal a alguém e muito menos concretizar qualquer pensamento menos positivo.

k) Conténs-te publicamente em manifestações de afecto (abraçar, beijar, rir alto...). Em algumas situações sim tento conter-me, noutras sou o oposto.

l) Qual o lado mais acentuado? Orgulho ou teimosia? Talvez a teimosia me cubra melhor.

m) Casamentos homossexuais e/ou direito à adopção? Quanto ao casamento homossexual julgo que é uma opção e respeito. Quanto à adopção tenho uma opinião um pouco ambígua.

o) O número de visitas ou de comentários influencia o teu blogue? Obviamente que quem escreve para um blogue, gosta de sentir que a mensagem passou, que o lêem. Muita gente não o admite, mas sei que é importante para qualquer um de nós. Não significa com isso que viva obcecado com essa situação. Quem quer comenta, quem não quer não é obrigado a fazê-lo.

p) Na tua blogosfera pessoal e ideal, como seria ela? Um pouco diferente. Sei que num mundo como este, terá de existir de tudo, no entanto considero que se age um pouco por hipocrisia. Não obstante o ter conhecido e ainda vir certamente a conhecer gente maravilhosa, está patente muita inveja e hipocrisia. (Já fui algo de “ataques” que não tenho explicação para o facto)

q) Deviam haver encontros de bloguistas? Caso sim em que moldes e caso não porquê? Sim, porque não? O conhecer pessoas é a maior forma de enriquecimento do ser humano.

r) Sabes brincar contigo mesmo e rir com quem brinca contigo? (Não vale responder com ironias) Sim, rio muitas vezes de mim e gosto de rir com quem brinca comigo na verdadeira acepção da palavra.

s) Já agora, qual ou quais os teus principais defeitos? Teimoso, impulsivo sonhador demais e uma dose de ingenuidade entre outros…

t) E em que aspectos te elogiam e/ou achas ter potencialidades e mesmo orgulho nisso? A minha sensibilidade e humildade. Gosto de ajudar sempre quo o posso. A sinceridade que é uma das regras que me incutiram, mas que nem sempre é bem tolerada e compreendida.

u) Entre uma televisão, um computador e um telemóvel, o que escolherias? Um computador, porque poderia escrever, poderia contactar com pessoas e até divertir.

v) Elogias ou guardas para ti? Gosto de elogiar, embora por vezes guarde algumas coisas.

w) Tens a humildade suficiente para pedir desculpa sem ser indirectamente? Sim, peço sempre desculpa quando faço ou digo algo que não devia.

x) Consideras-te, grosso modo, uma pessoa sensível ou pragmática? Sou sensível demais, o coração vence sempre a minha parte racional o que por vezes me prejudica.

y) Perdoas com facilidade? Sim, no momento posso ficar bastante magoado, mas depois perdoo completamente, no entanto por vezes fica uma chaga que não sara.

z) Qual o teu maior pesadelo ou o que mais te preocupa?
A perda de valores morais da humanidade, o progresso desmedido que empurra o ser humano para segunda categoria, a instabilidade social a fome a guerra entre tantas coisas.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Circo do Amor




A cidade “Afrodite” despertava da letargia da noite como uma ave preguiçosa a abandonar o seu ninho.
O rumor afinado dos pássaros cortava o silêncio e espalhava-se nas calçadas das ruas, na escola primária, no jardim da infância e na areia alva do velho “Rio Eros”.
As moçoilas caminhavam até o açude com suas latas, botando em dia as novidades de amor. E mesmo na volta, com aqueles pesos em suas cabeças, ainda tinham ânimo para conversar.
O circo chegou! Alegria geral, pois a cidade mudaria por um tempo. A cidade e todos nós. Viver é amar e amar é um circo nómada.
Há uns anos trabalhei num circo. Fui palhaço. Mas era um circo que caía aos pedaços. Não tinha chão. Apenas o pó era visível e a lona era o manto da noite, as suas estrelas, os holofotes.
Fui o palhaço de sapatos grandes com um sorriso aberto e contrafeito. Pintava o meu rosto de corres berrantes.
Era palhaço mal amado! Sou palhaço mal amado!
Dei na vida passos desequilibrados, que me fizeram tombar ao chão do desencanto e do desesperado.
Que saudades que aninho no coração.
O sorriso aberto das crianças, dos meus pés muitas vezes descalços de sapatos e de esperança. Do meu rosto pintado com as cores do contentamento, tentando representar um mundo de fantasia, um mundo de sofrimento disfarçado em alegria. Afinal também se vive no âmago de um palhaço.
Que saudades de te ver, a sorrir, a chorar. Que falta me faz o teu carinho, o som dos teus aplausos.
Já não sou palhaço!
Agora, talvez um adulterado trapezista, satisfeito com piruetas e saltos de braços em braços na esperança de que alguém me segure da queda fatal.
Inebriado e alucinado de vivências falazes, que são despojos de nublados afectos que tornaram a minha alma ansiosa, isolada, e sedenta.
Assim é o circo do amor! Aparências, sonhos, ambições e desenlaces, alegrias, tristezas, estados hilariantes e agonias.
Era sempre assim. O circo chegava, encantava e, de repente, evaporava. Levava seus encantos, a graça do inusitado, e muitas vezes até alguém da cidade. Mas, deixava também, as saudades e as lembranças com que me apego agora, tanto tempo depois, mesmo sabendo das verdades cruas de quem mora no circo estéril do amor como aqueles que visitavam a minha terra.
Meninas e Meninos, Senhoras e Senhores, sejam bem-vindos ao circo do amor. Para quem gosta de encantamento, o circo do amor tem a honra e o privilégio de vos apresentar o maior espectáculo do mundo.
Vamos dar início ao mundo da fantasia sem truques e apenas com o poder da mente, a magia infalível de “Mister Paixão” que nos irá apresentar o seu grande número de magia urbana.
Peço pois, a vossa máxima atenção, para “Mister Paixão” e a sua “partner” na sua fabulosa arte da ilusão.
As luzes arrefecem a claridade do palco ao inverso dos corações que amornam com o suspense.
Uma nuvem beija a boca de cena e como um relâmpago o ilusionista está no palanque.
O mágico, com gestos meticulosamente apurados faz levitar a diva assistente, e em simultâneo afasta a incansável e feliz fuga da rotina, como um coelho que sai da cartola. São as surpresas que gostaríamos que fizessem parte de nossos dias.
Em júbilo e em êxtase, a assistência aplaude, o magnifico desempenho do actor numa atmosférica épica parecendo uma festa afrodisíaca da Grécia antiga.
Todos temos consciência o quão devastador pode ser o quotidiano de uma relação.
A assistente, aquela figura de formas esculturais vestida com um adorno que demarca cada curva de seu corpo, mostra o que muitas vezes nos propomos fazer para chamar a atenção do ser amado, seja como amante ou companheiro e a infinita cobrança com o corpo perfeito e a insaciável disposição para amar e distribuir sorrisos, apesar da passagem feroz dos anos.
Será sempre assim?
Talvez dependa da vontade e afinco da assistente.
A arte mágica deu lugar ao palhaço alegre, bem maquilhado e com um enorme sorriso nos lábios.
Todos sabiam que aquele colorido representava a pessoa amada. De uma maneira geral, apaixonamo-nos por pessoas que nos fazem rir, porque nos trazem sensação de alegria e bom ânimo constante.
O palhaço triste, e mal enjorcado, entrou a meio, e meio grogue trazia consigo estampado no rosto as lágrimas e sorriso fechado.
Na forma de plebeu representa a angústia do ciúme e tende a fazer com que o medo de perder o grande amor faça justamente o que tanto teme.
O ciúme exagerado torna as pessoas impacientes e carentes, afastando a cada dia o ser amado, como uma ampulheta a derramar grão por grão de areia levando pouco a pouco, um tempo que infelizmente não volta atrás.
De seguida, as cabeças ergueram-se para cima. O topo foi iluminado. A plateia ficou na sombra do homem do trapézio. O corpo esguio e poderoso de equilíbrio indefectível representa a confiança, a fidelidade.
A plateia em tétrico silêncio reza em surdina para que tudo corra bem. É bem conhecido de todos as consequências de um tombo fortuito. A queda da confiança uma vez estatelada ao chão tem como trágica consequência, senão a morte, no mínimo sequelas profundas e dolorosas.
Felizmente tudo correu na perfeição e como previsto.
Agarrado à corda da lealdade, o trapezista deixou-se escorregar lentamente até atingir o chão. Beijos saíam da sua boca em direcção à plateia, rendida pelo fabuloso trabalho de “Eros”.
Como é belo ser trapezista no circo em que o amor se transforma. E vivemos sempre lá em cima, trapezistas da nossa própria existência, bailarinos da nossa própria esperança.
Quem cai por amor, cai sempre para cima!
Todavia o amor para subsistir e vencer tem de ser nutrido. Eis que se ouve um estrondo de motores… Lindo! O poço da morte. Os protagonistas estimulando as leis da física, cruzam-se e voltam a cruzar-se com um ruído perfeito de sintonia.
Aqui assistimos à adrenalina, ao ápice de intensidade, aos ruídos e emoções do sexo apaixonado. Os presentes aplaudiam cada gesto acrobático de boca semiaberta de emoção deixando escapar “ais” de deleite pelo êxtase que os abraçava.
Alguns rugidos invadem os ouvidos dos presentes. Há! São leões!
O domador “Ovídio” surge inesperadamente com um livro na mão. As feras são subjugadas pelos poemas de “Metamorfoses”.
Que prelecção podemos tirar? Os leões cedem como que magnetizados por algo divino.
Também nós abdicamos na relação, quando uma das partes se anula, engole seco, vontades, verdades e apetites para satisfazer as vontades e caprichos do outro, seja como demonstração de amor ou mera sobrevivência.
Tal como as feras, a maior parte de nós recolhemos ao nosso secreto mundo num eunuco isolamento.
Envolto em roupas extravagantes, um homem entra com um cinto repleto de facas.
Eis um dos mais esperados do espectáculo circense do amor.
O atirador de facas! Confessem-me lá se não é a perfeita representação do que circunda uma relação!
Ciúmes, farpas, palpites, cobranças, comentários indesejáveis; cuidado!
Se uma destas facas lhe atingirem o peito podem contaminar-lhe a alma e o espectáculo pode terminar antes do previsto e levar consigo toda a magia vivida por todos os personagens durante a apresentação que, até então, pode ter sido esplêndida e triunfal.
Boa Noite Senhoras e Senhores!
O Circo do Amor vai voltar amanhã e todos os dias, enquanto houver amantes loucos e apaixonados neste mundo tão nu de sentimentos.



21-01-2010


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Paroxismo de momentos



Momento inicial
Tenho despertado com uma dor no peito e uma agonia indisfarçável.
Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho vontade de viver.
Estou triste e gostaria de ficar só.
Afasta-te sombra do infortúnio, única que me amas e segues.
Só não sei, se este é um caminho sem retorno.


Momento da catáfora
A sombra negra na coluna de mármore à minha espera.
Dás-me dois beijos e caminhas em direcção ao sol.
Vejo-te a subir o passeio e cada vez mais longe, pequenina.
Eu e a sombra negra de mão dada na penumbra.
Senti um algor desmesurado nos ossos, mas não pensei.
Perguntei-me e respondi:
“Olhas-te para trás? Eu, não.”
“Olho, agora.”


Momento mate
O vento quase que tudo levou. Interrogo-me porque não a mim?
Farei parte de algum resto com que o infortúnio me afortunou?
Ou será castigo que o acaso me ofereceu?
Choro lágrimas pálidas de medo.
Descanso meu corpo esgotado, vergado e doente.
Se morrer, morro, porque sem amor não sou gente.


Momento do purgatório
O meu destino tem sido como um cão repleto de raiva.
Persegue-me como louco rosnando ao passar dos meus passos.
Nos sulcos de um tempo longo, infértil e matreiro.
Quero fugir dele, quero passar-lhe ao lado, porque me aferra, mas acabo sempre nos seus tenebrosos braços.


Momento terminal
Eu não sou poeta, sou simplesmente sonhador.
Arrumo nas linhas dum livro imaginário as palavras dos meus sonhos.
Sem grandes ornamentos e complicações, pois surgem do fundo do coração.
Na ilusão deste sentimento, escrevo para que possa existir, ter vida.
Deixa-me ser apenas como aquela página que não foi lida.
Agora, só me resta gravar as palavras num raio de sol, e imprimi-las todas as manhãs no brilho de um sorriso dos lábios de uma criança.


2010-01-14

domingo, 10 de janeiro de 2010

O homem que jamais alguém descobriu



Quero peregrinar!
Talvez fugir para parte incerta e distante onde ninguém me possa achar.



Tentar polir um par de asas e levantar voo no firmamento.
Deixar-me ir como uma andorinha migratória que segue uma nuvem com alegria e alento.



Quero esquecer, fugir, quero abrir os olhos e não ver o presente, desmaiado e vulgar.
Quero absorver e viver o futuro de maneira que me sorria para o poder pintar.



Vou fugir, vou viajar, vou sair. Vou arrancar raízes profundas ir. Vou caminhar
ao encontro do teu ser, do teu corpo, do teu rosto a sorrir.



Mas, quando eu morrer, não digas a ninguém que foi por ti.
Cobre o meu corpo frio com um dos lençóis que alagamos de seiva dos beijos ardentes e leva-o para uma praia junto ao mar, onde possa ser apenas mais um poema, como esses que te escrevi.



Planta à minha volta uma fiada de rosas brancas em recipientes mornos,
e um cordão de árvores que perfurem a noite, porque a morte deve ser clara como o sal na crista das ondas, e a cegueira assusta com seus contornos.



Quando eu morrer, deixa-me a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem toques com os teus lábios a minha boca fria.
Promete-me que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos que se percam, numa suave apatia.



E não esqueças de os lançar no retiro do oceano para que se alguém os enxergar de longe julgar serem flores que o vento despiu.
Ou uma simples estrela que pinga luz de amor, uma lágrima de sol, quando na realidade é apenas um homem que jamais alguém descobriu.


2010-01-010