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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ANJO SEM ASAS


"As histórias têm muito mais exemplos da fidelidade dos cães que dos amigos" Alexander Pope

Meus queridos donos,
A minha vida deve durar já pouco tempo… estou com alguns anos.
Qualquer separação é muito dolorosa para ambos. Não fiquem tristes quando eu partir, porque eu levarei um pedaço do vosso coração comigo.
Todos têm o vosso trabalho, os vossos amigos, eu, queridos donos, só vos tenho a vocês.
Falem comigo de vez em quando. Dêem-me uma guloseima que eu aprecio muito. Como vos conheço desde cachorrinho, compreendo muito bem o vosso tom de voz e sei tudo que me querem transmitir. Ficará gravado em mim para sempre, jamais esquecerei.
Antes de me censurarem por estar preguiçoso ou teimoso, vejam antes se há alguma coisa me incomodando. Talvez eu não esteja bem. O meu coração pode estar mais fraco…
Cuidem de mim quando eu ficar ainda mais velho e esgotado.
Já vos conheço e sei que nunca me irão abandonar, que estarão comigo até ao fim. É que tudo é mais fácil para mim com vocês a meu lado. E eu tenho a certeza que irá suceder.
Amem-me com sempre o têm feito, pois independente de qualquer razão, eu vos amarei para sempre!
Uma enorme lambidela para vocês
Simba



 
A incerteza da vida confirma-se na certeza da morte. Na madrugada de 21 Setembro de 2011 perdi um descomunal pedaço de mim.
Todos sabemos que a morte é um acontecimento terrível.
As seis da manhã já se tinham instalado. Não conseguia pregar olho, porque a morte chegou sem ser apresentada, foi apenas convidada.
Há dias em que morremos mais que outros. Em que o coração estaca, a mente estagna e a alma encrosta.
Falece a esperança, e a tristeza fica mais amarga. O assombro é de tal forma súbito que nem tempo subsiste para a extrema-unção.
Ter um amigo em casa, que envelhece em média, cerca de sete vezes mais rapidamente do que nós, é um pouco como ver uma película futurista da nossa própria vida: as faculdades vão-se degradando, o temperamento vai amolecendo, a energia vai-se perdendo. Só o amor e a amizade ficam e mantêm-se constantes, coisa que a maioria dos humanos não consegue preservar.
Sinto a falta da tua presença à minha volta.
Emergiste assim do nada, como um anjo que cai do céu. Cresceste sem asas, mas não desperdiçaste as alas da bondade, da amizade e do amor.
Meu amigo foste, és, e sempre serás, como um anjo sem asas, que continua a voar no meu pensamento.
És um barco sem vela que eternamente navegará pelos meus mares que inundam a minha solidão.
Ao partires deixaste um colossal vazio no meu peito, uma louca vontade de chorar. Chove-me a cântaros na alma.
A tristeza inunda-me o coração. A dor é inaudível, mas feroz. A alma, essa já não padece, está submersa. Foi como se o inverno me invadisse antecipadamente, e uma hipotermia se apoderasse do meu corpo que treme de frio e de nostalgia.
Sinto a saudade dos teus olhos doces que já não posso olhar, do teu pelo que já não posso acariciar.
Foste tempero do meu ser, o sal do meu viver. Ensinaste-me a amar.
Não existem palavras para definir todo este encanto que tomou conta de mim.
És um anjo sem asas a voar no interior do meu coração.     
Até sempre!
                                             
Afonso da Tala (Simba)
18-08-1996
21-09-2011